Mestre Zuza
Tracunhaém (PE)Mestre Zuza, como é conhecido José Edvaldo Batista, é um dos grandes artistas de Tracunhaém, na zona da mata norte de Pernambuco. Nascido e criado no barro, é neto, filho, irmão e sobrinho de ceramistas, que há mais de um século abraçaram essa forma de criação.
É do barro que ele tira sustento para si e sua família, mas é mais do que isso, não é um trabalho, é uma paixão, uma necessidade quase física de estar moldando, criando vida e trazendo personalidade e feição para seus personagens – e ele ama trabalhar. Nos dias em que se dedica a outras questões, em que não materializa seus santos no barro, sente que foi um dia perdido.
Dono de uma técnica admirável, começou na arte figurativa criando as xifópagas (gêmeos ligados a um só tronco pela cabeça) que causam encantamento e estranheza. E logo depois se descobriu santeiro e, como é próprio de grandes criadores, rompeu a tradição de representação europeia e criou todo um imaginário para suas peças: seus santos são antes de tudo humanos, e se assemelham aos seus ancestrais: traços negros e indígenas, com a pele escura, nariz largo, expressões fortes e cheias de personalidade. Basta olhar para uma peça e logo se vê que é do grande Mestre Zuza de Tracunhaém, seus santos têm a força, presença e o DNA de seu mestre. Uma de suas principais características é o uso de mantos despidos de ostentação e riqueza, mas marcadas no barro com o que ele chama de estopa, referência ao voto de pobreza, à renda de bilro que remete aos reis e rainhas do Maracatu rural, a coroa e resplendor, fazendo menção ao cocar indígena.
Todas as suas referências nascem do imaginário nordestino e de sua releitura dos santos, ao estilo barroco contemporâneo, como ele mesmo gosta de chamar, que recria signos e novos elementos dentro da espiritualidade católica.
Zuza é um homem generoso, agregador e de sorriso largo. Ao longo de 25 anos ele partilhou os saberes e mistérios do barro em oficinas na zona da mata, sertão e agreste para mais de 1500 pessoas, através do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-PE). Ainda hoje abre o seu ateliê e recebe aprendizes ávidos por conhecer e aprender a técnica com o grande mestre. “A arte me trouxe grandes realizações e muito além do que a satisfação em vender, está o prazer da realização”, indica o mestre.
Formado em história, é um dos ativistas culturais de sua cidade, conhece todos os movimentos artísticos e transita entre eles. Foi Secretário de Cultura e de Turismo e segue sendo uma referência na área cultural, e afirma que todas essas vivências só engrandeceram o seu trabalho. Reconhecido pelo governo do estado de Pernambuco como mestre de ofício, foi premiado no Salão de Arte de Pernambuco e recebeu título de Patrimônio Vivo de Tracunhaém, sendo um dos grandes Mestres da FENEARTE.
Foto: César de Almeida
Fonte: Artesanato de Pernambuco